sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Mergulho

Um passeio pelo fundo do mar

No Litoral paranaense encontram-se bons pontos de mergulho. Próximo aos recifes artificiais e às ilhas de Currais, Itacolomi e da Figueira é possível praticar o snorkeling ou a modalidade autônoma

23/01/2009 | 00:08 | Robson Martins

Imagine a sensação de estar dentro de um imenso aquário, nadando entre a vida submarina. É isto que se sente quando se pratica o mergulho de contemplação no oceano. Apesar de Santa Catarina ser mais lembrada pelos mergulhadores, o Paraná também tem bons lugares para quem gosta de apreciar a vida debaixo da água.

Como a natureza submarina se desenvolve perto de pedras, onde encontra abrigo e comida, os principais pontos de mergulho do estado estão localizados próximos às ilhas e recifes artificiais. As três ilhas mais conhecidas são a de Itacolomi, formada por rochedos; a de Currais, conhecida por ser a ilha brasileira que abriga a maior quantidade de aves por metro quadrado; e a da Figueira, perto da divisa com São Paulo.

Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo / A lancha Furacão realiza passeios em pontos do Litoral do Paraná Ampliar imagem

Entre os pontos de recifes artificiais, dois empolgam os mergulhadores. O primeiro é próximo a duas balsas, a Espera 7 e a Dianka, enterradas a cerca de 30 metros de profundidade. “A Espera 7 já está se desintegrando. Nós acreditamos que seja pela ação de pescadores, que usam explosivos como arma de pesca”, afirma Emerson Carvalho Macedo, 37 anos. O empresário mergulha há mais de 15 anos e frequenta assiduamente o Litoral parananense.

O segundo é o Parque dos Meros, que apesar de ficar em mar aberto contém uma grande quantidade de vida marinha. Isso porque há dez anos um projeto do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM/UFPR) foi responsável pela colocação de blocos de concreto em uma região entre as ilhas de Currais e de Itacolomi. Os blocos funcionam hoje como recifes artificiais e são responsáveis pelo repovoamento da fauna e da flora existentes na região. O nome do local faz referência a um dos peixes que mais chamam a atenção dos visitantes, o mero, que pode chegar a 2 metros e 250 quilos. Para dificultar a ação de pescadores que caçam este animal, o local exato do parque não é amplamente divulgado. O animal pode ser visto também em outros pontos. “Na última vez que estivemos nas balsas, vimos mais de 20 meros. Foi uma cena maravilhosa”, relata Macedo.

Haja fôlego

Existem dois tipos de mergulho. Um deles é o livre, em que o mergulhador não usa equipamento contendo ar e, por isso, tem de voltar à superfície assim que o fôlego acaba. Para esta prática – chamada de snorkeling –, utiliza-se normalmente o snorkel – uma espécie de cano para respirar fora da água –, que serve para que o praticante fique com a cabeça dentro do mar enquanto observa a vida marinha. Ele é utilizado também na pesca submarina, em que o uso do cilindro é proibido, restando aos praticantes apenas a força dos pulmões.

O segundo tipo de mergulho, o autônomo, é o que depende do cilindro de ar, que é composto não só de oxigênio. “São 21% de oxigênio e 79% de nitrogênio. Se fosse só oxigênio, a partir de 12 metros de profundidade já geraria uma convulsão e a morte por afogamento”, explica o mergulhador Diego Link, que está fazendo o curso de instrutor na escola curitibana Acquanauta e, a partir de fevereiro, será responsável por ensinar outras pessoas.

Para os iniciantes neste esporte, a sensação de respirar dentro da água é fascinante. Mesmo assim, não basta colocar um cilindro nas costas e sair mergulhando por aí. O curso básico, que dá direito a uma credencial, é obrigatório. No Litoral paranaense não há escolas, mas é possível fazer o curso em Curitiba, em piscinas, e depois ir ao Litoral para o batismo – nome dado à primeira vez que o praticante entra na água na condição de mergulhador.

Investimento

Para aqueles que não têm certeza se o investimento – que pode passar de R$ 1 mil – vale a pena, as escolas oferecem uma experiência de um dia, que conta com aula teórica e mergulho. Os preços variam de acordo com a escola e o local escolhido para o batismo.

Por ser um esporte que demanda materiais caros, o mergulho autônomo acaba sendo um esporte para poucos. Sem contar o preço do aluguel ou da compra de um barco, o equipamento completo custa, aproximadamente, R$ 2,5 mil. Muitas escolas ou operadoras de mergulho, porém, alugam os equipamentos, mediante a apresentação da credencial.

Quem mergulha, no entanto, garante que a sensação de estar no meio do oceano, ao lado de fauna e flora completamente livres, não tem preço. Diante de tudo o que é visto no fundo do mar – como robalos, garoupas, meros e barracudas – cada centavo investido acaba valendo a pena.

Uma família mergulhadora

É difícil encontrar uma pessoa que tenha começado a praticar o mergulho autônomo e não tenha se apaixonado. A sensação de ver de perto, e às vezes até tocar, animais como arraias, tartarugas e peixes das mais variadas espécies chega a encantar famílias inteiras.

É o caso do estudante de Biologia Raul Braga, 21 anos. O curitibano é o mais novo de três irmãos e o último que fez o curso para ser mergulhador profissional, há nove anos. “Meu pai e meu irmão mais velho começaram no esporte. Quando eu fui fazer o curso, minha mãe se empolgou e fez comigo. Ela tinha um pouco de medo, mas hoje gosta bastante”, revela.

Braga conta que, apesar de todos da família mergulharem, nem sempre é possível que façam isto unidos. “Depende da disponibilidade de cada um. Algumas vezes mergulhamos juntos. Em outras ocasiões, os meus pais viajam e mergulham sozinhos.”

Ele, que faz o curso para ser instrutor e poder repassar a paixão, tenta explicar porque a prática é tão adorada. “É uma experiência única, não existe nada parecido. É uma novidade todas as vezes que se entra no mar. Não existe um mergulho igual ao outro, mesmo que seja no mesmo lugar”, garante.

Cada vez mais fundo

Diego Link é outro apaixonado. “Sempre gostei de água. Fui nadador profissional durante sete anos”, afirma o consultor de tecnologia da informação, mergulhador há cinco anos.

Link define as sensações que tem quando está submerso e suas preferências. “Eu gosto de mergulhar em naufrágios, onde é possível observar a história aliada à natureza. Também gosto de ter a sensação de estar como que em gravidade zero, o que só se aprende com a experiência.”

Quando o futuro instrutor começa a falar sobre grandes profundidades se empolga. “O planejamento do mergulho é do que eu mais gosto. Calcular quais os tipos de cilindros e quantos deles eu vou ter de levar, quanto tempo eu vou ter de ficar em cada profundidade. É um aprendizado constante”, afirma. Ele diz ainda que, dependendo do tempo em baixo da água e da profundidade, a volta à superfície às vezes demora mais do que o próprio mergulho, já que é preciso adaptar o corpo à pressão.

O mergulhador garante que, quando o tempo é favorável, o estado paranaense tem bons lugares para o esporte. “O problema do Paraná é o mar turvo. Mas quando a visibilidade está boa, é muito legal. Tem muita vida”, garante.

Experiência a favor do meio ambiente

Livro utiliza relato dos pescadores da Baía de Guaratuba para ressaltar a importância da preservação ambiental

23/01/2009 | 00:01 | Ana Letícia Genaro

Guaratuba - Relatos de sete pescadores da Praia de Caieiras, em Guaratuba, são o pano de fundo para o livro Baía de Guaratuba – Peixes e Suas Histórias, lançado no último sábado em parceria entre a ONG de educação ambiental Instituto Guaju e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente. A partir do relato dos pescadores, dois pesquisadores da ONG, os zootecnistas Marcio Nascimento e Rodrigo Bertoli, listaram os principais peixes da região.

“Nosso objetivo era preparar um material que elucidasse o potencial da baía e valorizasse todos os peixes encontrados nela”, explica Bertoli. Ao entrevistar a comunidade para obter informações sobre a fauna, eles se depararam com o universo dos pescadores. “Nós descobrimos a riqueza da cultura do pescador artesanal. Foi o ‘tempero’ que conseguimos encontrar para o livro”, diz Nascimento.

A obra aborda as características técnicas de 28 espécies de peixes, como o linguado, tainha e robalo e onde podem ser encontrados. Além disso, explica como era a pesca artesanal até 1970, quando era feita exclusivamente na baía graças à fartura dos cardumes, bem como a evolução do ofício e a necessidade de ações sustentáveis e de preservação ambiental para que a atividade não seja ameaçada. A publicação traz ainda a legislação ambiental para a pesca e informações sobre como dar destinação adequada aos resíduos gerados pela atividade.

Dão seus depoimentos pescadores como João Trajano Alves, natural de Barra Velha (SC) e morador de Caieiras há 44 anos. O pescador é conhecido como Generoso pelos companheiros. “Gosto de ir para o mar com a gurizada e ensinar o pessoal. E acabo sempre aprendendo alguma coisa com eles”, conta. O ensinamento mais importante do ofício que aprendeu aos 8 anos com o pai é a prática. “Saber como está a maré, se a força da água está para o Sul ou para o Norte. Aprendi tudo isso com a experiência”, conta. O mar é um velho companheiro. “Foi ele que me deu o pão para sustentar a família.”

Com 64 anos, o pescador continua na lida. Acorda todos os dias às 4 horas para lançar a rede ao mar e só volta às 11. No fim da tarde tem mais: deixa a casa às 18 e só retorna entre meia noite e 1 hora.

Parceria

O velho companheiro é Agenor Gabriel Linhares, 63 anos, parceiro há 30 de Trajano e pescador mais antigo de Caieiras. “Quando vim para cá, com 17 anos, só tinha quatro casas, nem estrada tinha”, diz. Até um tubarão de 300 quilos os dois dizem já ter pescado juntos. “Dá um prazer enorme quando vem lá do fundo aquele bichão engatado na rede”, fala Agenor.

Desde cedo, Agenor aprendeu a arte de entalhar redes. As primeiras eram feitas com fibra de tucum, árvore típica da região, e os cabos feitos de cipó. “Tinham que ser pintadas a cada dois meses com uma tinta feita com caule de bananeira para não estragarem”, conta.

Recordações de sustos a bordo todos têm. O maior deles quem conta é Ivo Chiodini, que ficou no mar oito dias. “Eu estava com dois sobrinhos que na época tinham 14 e 15 anos. A tempestade pegou a gente quando estávamos longe”, relembra o pescador, que passou os dias tirando água do barco para não afundar. Por sorte tinham levado comida e água a mais, que racionaram. Quando voltaram para casa, os familiares já acreditavam que os três estavam mortos.

Ivo, que mora há 22 anos em Caieiras, explica que na época só as grandes embarcações possuíam rádio comunicador, sonda ou radar. “Era mais no tino mesmo. Na percepção de como estava a água ou pelo céu. Aquele dia falhou e quando pegamos a tempestade era tarde.”

Serviço:

O livro Baía de Guaratuba – Peixes e suas Histórias pode ser solicitado pelo site www.institutoguaju.org